quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Uma nova fase para as séries de TV?

Será que algo mudou na produção das séries americanas? Os executivos se dão conta de que o público está menos tolerante com produções sem graça? Será que finalmente irão primar pela qualidade? Vamos tentar responder à essas perguntas nesse texto longo, mas pertinente.


A cada ano são dezenas de novas séries que estréiam na TV americana. Se contarmos com a TV a cabo e as séries estilo reality, são centenas de novos programas que tentam conquistar seu espaço no gosto do público e consequentemente serem considerados um negócio lucrativo. É algo óbvio, mas muitos fãs esquecem que séries de TV são feitas para se ganhar dinheiro, muito dinheiro. E assim como centenas de novas séries surgem, outras centenas são canceladas.

Como o foco principal do blog é de falar de séries roteirizadas, vamos deixar os realitys e afins de lado (que iriei abordar em outro texto falando de uma nova tendência nesses programas) e vamos nos concentrar nas séries que a grande maioria de internautas assistem, que são aquelas das principais 5 emissoras americanas (ABC, CBS, Fox, NBC e CW) e de alguns canais pagos (HBO, Showtime, AMC, Starz, FX, TNT e SyFy).

O que tem mudado a cada temporada é que está cada vez mais difícil emplacar uma série em sua primeira temporada. Tanto que os estúdios estão menos flexíveis com séries que apresentam pouco audiência logo de cara, é cancelamento na certa. Antigamente, principalmente com as sicoms, se dava mais tempo para se ajustar a série ao gosto do público, podendo fazer a audiência aumentar consideravelmente. Friends, por exemplo, é um caso de série que começou fraca, mas que foi encontrando seu caminho aos poucos, chegando a se tornar uma das séries de maior sucesso da TV. Mas se fosse nos dias atuais será que ela teria essa mesma chance? Provavelmente não.

No caso dos dramas o problema é outro. Uma série pode até começar muito bem, mas se a qualidade cai, a audiência vai junto. A explicação é muito simples. No mundo atual, nosso tempo fica cada vez mais escasso, principalmente para o lazer. Se temos tempo para assistir a 4 séries por semana, é isso o que veremos e ponto. Se alguma série que você acompanha, principalmente se for a pouco tempo, começa a se mostrar chata, você já não pensa duas vezes antes de parar e dar atenção a uma outra que está bombando, ou a que algum amigo indicou porque é a melhor coisa que ele já viu na vida.

E uma vez que a audiência de uma série cai, é praticamente um caminho sem volta. Ao meu ver, é apenas ultimamente que as emissoras americanas (entenda aqui a diretoria dessas emissoras) começaram a perceber que as pessoas não estão mais aceitando serem enroladas com séries pobres de conteúdo, com com façanhas mirabolantes para esticar o sucesso de algo em voga. Não temos tempo a perder com séries que não nos agradem.

E é aí que entra o segundo problema em relação aos programas, aliás, um problema que apesar de notado ainda persiste. Já é de praxe a manobra de esticar uma série quando ela faz sucesso, ou de repetir sua fórmula a exaustão para continuar a colher o mesmo resultado que ela gerou no começo. Posso citar diversos exemplos sobre isso. Veja o caso de CSI. Uma série que aborda investigações forenses de maneira inovadora, trazendo um caso por semana, e um pouco de história de fundo com seus personagens principais. O tema não é novo, mas o formato, de certa forma, sim. O sucesso foi tão estrondoso que repercute até hoje, seja pela dezenas de séries parecidas que surgiram, pelas derivadas da própria série (CSI:NY e CSI:Miami) e pela própria série em sí, que está no ar até hoje, mesmo tão desgastada que é praticamente um programa diferente do que era quando começou.

A alegria das emissoras em repetir fórmulas muito usadas começou a diminuir quando o chamado "efeito Lost" acabou com os ânimos do publico. Não vou aqui recapitular os problemas da série, muitos conhecem, pra resumir foi algo que começou com grande inspiração e que acabou se revelando uma sequência de idéias sem muita ligação que fecharam a história com um final longe do idealizado pela própria série. Foram 6 anos investidos num programa que prometia recompensar o público com um final, no mínimo, satisfatório. A realidade é que não havia um grande planejamento concreto para onde a série iria. E é isso o que ultimamente uma série tem que ter para não apenas fazer sucesso, mas ter vida longa junto ao público.

Quem começou a notar isso foi o grupo dos canais pagos. As séries desses canais costumam gravar uma temporada inteira antes dela ir ao ar. Ou seja, uma temporada completa de Dexter, por exemplo, já começa com a premissa de um desfecho coeso ao seu final. Na prática isso nem sempre acontece, mas o fato é que se a série terá 13 episódios naquela temporada, é com isso que produtores e roteiristas vão trabalhar para criar uma história com começo, meio e fim.

Já na TV aberta eles ainda vão "tateando" antes de escrever algo mais elaborado, o número de episódios nem sempre é garantido e a história pode acabar seguindo no "achismo". Começar algo como Lost é considerado investimento de alto risco, tanto que a série Alcatraz (na mesma emissora e com um dos mesmos criadores de Lost, o J.J. Abramh) só pode ser viável quando um planejamento da série foi apresentado ao canal, mostrando que haveria sim um final pensado previamente, e que acabou agradando aos executivos da Fox.

Não sei de fato se Alcatraz será uma série satisfatória ao seu final, mas ja é um avanço em termos de qualidade. Empurrar uma série com a barriga já não funciona como antigamente. Veja um exemplo de algo já veterano e com qualidade e sucesso, a série Grey's Anatomy. É possível dizer que, ao contrário de muitas outras séries que já passaram dos 7 anos, Greys está melhor do que nunca, porque conseguiu aprender com seus erros. Conseguiu entender o que o público quer, o que realmente funciona, e como combinar isso num trabalho de qualidade. Por sua longevidade, os problemas que podem afetar a série agora é a perda de seus protagonistas, um problema que na maioria das vezes não depende da emissora ou dos criadores, mas sim do próprio ator que quer partir para outra.

Se a série chega ao seu final de forma natural, é a melhor coisa para o público, sem enrolações, esticamentos e, ainda de quebra, o encerramento da história que ele tanto gosta e acompanhou por anos, de forma pensada, bem feita e que agrade. Segurar uma série, porque ela ainda dá audiência mesmo não sendo muito boa, é uma tendência que irá acabar, pois o público já não consegue a se prender algo por tanto tempo sem realmente valer a pena. Se as pessoas se acostumarem a parar de assistir séries medianas a tendência de se produzir algo de qualidade, irá perseverar.

Os executivos já estão percebendo que não adianta enfeitar uma história repetida para cativar o público, as opções são tantas agora que se deve agarrar com unhas e dentes (ou com qualidade e comprometimento) a audiência que usa seu tempo valioso para prestar atenção naquele programa.

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